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A Minha Psicanálise (e as Outras) – Ricardo Goldenberg

Se fosse descoberto um documento mostrando que Newton pensava coisas completamente diferentes sobre a gravidade, isso mudaria, no máximo, a história da física, não a física em si. Porém, se o mesmo acontecesse com Freud, isso mudaria a psicanálise mesma. Está ali, nessa dependência da teoria ao nome do fundador, que se pode concluir que a psicanálise não é uma ciência. Isso disse Michel Foucault numa famosa conferência proferida em 1968. Aceitar esta premissa implica, como me fez observar uma colega com quem conversava sobre estes assuntos, que abandonar os significantes de Freud equivale a abandonar a psicanálise enquanto tal (o destino de Jung, de Adler, de Reich, etc.). A questão, ela disse, é antes de mais nada política não conceitual.  Ou seja, podemos definir o conceito de “pulsão”, ponhamos, de um modo por completo diferente e até oposto a como Freud o definira, mas não poderíamos prescindir dele, se ainda queremos ser chamados de “psicanalistas”.  Se isto for exato (e não digo que não seja), estamos perto, muito perto, de confessar que a psicanálise não passa de uma religião ou de uma seita que, como qualquer outra, se sustenta apenas em nome de um pai. O que tantos colegas assumem quando se referem a Freud como “o pai da psicanálise” (ambos em singular). Abandonar o pai equivale a uma heresia e a uma excomunhão. O que nunca foi dito é que, com este critério, a psicanálise jamais entrará no século XX, já que permanecerá atrelada a um paradigma válido para o século XIX, que dirá no XXI. Proponho conversar sobre isso tudo.

Apresentação: Ricardo Goldenberg

Psicanalista. Licenciado em psicologia pela Universidad de Buenos Aires; Mestre em filosofia pela USP e Doutor em comunicação e semiótica pela PUC/SP. Autor de, entre outros, No círculo cínico ou caro Lacan, por que negar a psicanálise aos canalhas? (2002); Política e Psicanálise (2006); “Solidão e multidão” – a propósito de Psicologia das massas e análise do EU, de Freud  (2008). Do amor louco e outros amores (2013); Desler Lacan (2018).